CUCATILINTÁ

domingo

Adobe Yout Voices Project - September 2011

Fase final do curso AYV online.

sexta-feira

A FOME - Povolzhye famine

Pergunte sobre ela aos seus pais, aos seus avós. Relembre as histórias dos mais velhos, contadas com emoção e só interrompidas por uma baforada ou outra num fedorento cachimbo. Eis a maldita fome, presente, desde os sofrimentos mais breves do jantar que se demora, até os limites em que o corpo se auto-canibaliza: Primeiro o açúcar, seguido das proteínas, depois a gordura e finalmete, a própria carne e para manter-se vivo, o corpo só não come os próprios ossos porque são duros de roer! A fome é a responsável por delírios, experiências místicas do jejum e, porque não?, a desencadeadora de comportamentos naturais desprezíveis para os padrões civilizados. É preciso aqui enfatizar que, para estes padrões, a fome fica na calçada, no outro lado da rua, do outro lado do restaurante. Provavelmente provará dos restos que a inimiga opulenta da fome, a fartura, passou a desprezar. Acreditava-se que a fome tivesse como indicador uma diminuição de glicose no fígado. Seria este fator que desencadearia a sensação e as atitudes necessárias para sanar o problema. Mas e os casos extremos? Quando não há a senhora fartura por perto? Quando o senhor destino casa-se com a senhora fome para eclodir dentro dos desgraçados famintos, seus parasitas? Não podemos dizer: Isso eu não faço. Isso é coisa de animal! O que somos? O que conhecemos de nossos instintos? Só saberemos o que somos se a teoria e a virtude nos for roubadas pela mais dura realidade. Aí, o instinto de sobrevivência passa por cima de qualquer mandamento!

http://englishrussia.com/?p=3545

Diderot, em seu célebre diálogo: O sobrinho de Ramaeu, diz : " The voice of conscience and honour are really feeble when one's guts are crying out " - A voz da consciência e da honra é bastante capenga quando as tripas gritam. http://records.viu.ca/~Johnstoi/diderot/rameau_E.htm Verdade pura. Não há princípios e regras que segurem o estômago. A vida depende de comida e não de doutrina!

Diriam os românticos que nada vence o amor. Diriam os doutrinários que nada vence a fé. Diriam os políticos que nada vence uma nação. Diriam os nobres que nada vence o heroísmo.

Mas o que fariam estes todos se a realidade nua e cruel caísse-lhes sobre o corpo como uma camisa de espinhos a rasgar-lhes as vísceras com a dor da fome?

Não sei o que diriam. Mas sei o que fariam:

Na Rússia pós revolução. O comunismo era a bandeira da igualdade, da irmandade. Todos trabalhando para fazer da nação uma potência do futuro. Assim a fizeram! Mas a que custo? Uma doutrina não vale uma vida, quem dirá milhões!

Um bom exemplo de que o discurso não condiz com a prática está na história da região de Volga-Ural, ao sul. Não se sabe quantos milhões morreram de fome. Para os políticos com certeza este tipo de propaganda não era saudável ! Melhor que morressem no silêncio das correntes do comunismo. Melhor que morressem de fome e frio e não revelassem que a utopia da igualdade escondia a execrável desigualdade comunista!

Famílias desta região, abandonadas pelo partido e pela irmandade que construía uma superpotência nuclear, tomaram a decisão de sobreviver. Contrariaram o desejo de barrigudos de mesa, ocupados com papéis e despachos nos luxuosos apartamentos de Moscou!

Melhor que morrecem, mas não morreram. Tomaram o ato extremo de matar e comer a carne dos próprios irmãos, dos próprios filhos, mas sobreviveram para mostrar ao mundo que doutrina e utopia não enchem barriga. Contra despachos e carimbos responderam com a vida, mesmo que a vida custasse a morte. Essa é a ironia máxima de um comunismo que jogou fora seu rico valor humano em troco de discurso e autoridade.

Responda-me você que lê: Qual é o pior canibalismo? O da sobrevivência ou o canibalismo político que suga suas forças, suas riquezas e seu destino para um, digamos, " bem comum " ?

sábado

OS WANNABES

Wannabe ( uanabí ) é um termo em inglês, utilizado para referir-se a pessoas com propensão a imitar ou se vestir como outras, alguém sem personalidade. Wannabe também pode ser um sujeito ambicioso, inescrupuloso e com tendências a achar-se superstar.

Wannabe é o nome do primeiro disco das Spice Girls, que no caso, se enquadraria perfeitamente nas definições acima.

Bem, se fossem estes os guias para minha explanação, por que wannabe estaria no marcador ciência ?

A razão é outra: Wannabes são aqui enfocados sobre os olhos da psicologia. Questão comportamental e não de pura falta de talento ou personalidade.

Wannabes são na verdade pessoas que possuem uma disfunção mental, uma síndrome ainda não caracterizada. O comportamento em questão é um campo fértil para novas teorias psiquiátricas.

O indivíduo acometido desta síndrome estabelece um problema de conexão e identidade com seu corpo. A dor psicológica é imensa. A rejeição é tanta que ele toma a atitude extrema de amputar o membro em questão, completamente funcional, que lhe incomoda.

O termo técnico é Apotemnophilia, em inglês.

Existem muitos casos nos Estados Unidos e Inglaterra. Desconheço casos no Brasil.

Visitem o Site: http://www.geocities.com/starstranger_2000/index.html, em inglês.

Achei-o por acaso, trata-se de um indivíduo que cometeu a amputação e estabelece uma relação explicativa com sua estória, extremamente sincera e honesta , expondo seu alívio após a amputação. No seu caso, há um fantor desencadeante.

A observação de um rapaz com uma perna amputada gerou uma identidade forte no wannabe em questão. O wannabe tinha apenas seis ou sete anos, no tempo do episódio. Houve uma personificação inconsciente imediata, um desejo de ser o rapaz amputado. Este fator desencadeante ( triggering ) instalou-se em sua mente.

Há, talvez, uma relação semelhante àquela encotrada nos transsexuais, uma inadequação da imagem do indivídou com sua concepção de ideal. Ou um deslocamento do seu centro de normalidade estética, não sei. Estou aberto a sugestões e indicações de livros sobre o assunto.

O relato do wannabe neste site acima é extremamente coerente e mostra uma lucidez marcante.

Não se trata de um indivíduo com fraquezas mentais, espirituais ou com envolvimento em drogas e álcool. Ele está num processo de se auto-conhecer e com questionamentos extremamente lúcidos.

A auto-amputação não deve ser olhada, nestes casos, como algo estigmatizante, como coisa de louco. Parece mais uma solução radical de um problema para o qual não encontramos, ainda, uma terapia ou uma maneira de afastar do wannabe o seu desejo incontrolável de amputação.

Outro site: http://www.slate.com/id/2085402, em inglês.

fala explicitamente sobre o caso, mostrando a estória de Baz, um homem esclarecido e ativo que parte para uma experiência única.

Encheu um latão de lixo com gelo seco e mergulhou sua perna por seis horas, até que os tecidos ficassem danificados e irrecuperáveis.

( Dependendo de como a água dos tecidos se cristaliza, pode estourar as células, trincar as camadas de tecido conjuntivo, etc - Nota minha ).

Não foi possível ao cirurgião recuperar a perna gangrenada do paciente.

Sua identidade está agora completa. Sua dor se foi com a amputação.

Por favor, não tente entender este fenômeno utilizando você ou seu senso comum em comparação. Lembre-se, existe uma disfunção que leva o indivíduo a esta solução. Como o próprio bordão do jornalista Carl Elliott diz : " Quando menos é mais " - tradução livre. Agora ele está se sentindo melhor, mais adequado com sua imagem.

Alunos, por favor, não o julguem. Vamos tentar entendê-lo sobre o prisma da ciência.

UMA RELÍQUIA SEM PAR !

Italiana ou austríaca ? Tirolesa com certeza ! Não me refiro ao emocionante esporte de voar em cadeirinha de alpinismo por entre a bela paisagem do Tirol, especialmente quando existe uma lagoa abaixo dos pés, que ao final do trajeto, podemos nos soltar e cair na água gelada e gostosa.

Refiro-me ao banco genético raro, motivo de disputas entre Itália e Áustria. Um banco genético que muito pode falar sobre o próprio homem. Um livro encardido, mas perfeitamente legível. Refiro-me a Ötzi, a múmia esplêndida encontrada por turistas alemães de Nuremberg, quando escalavam o monte Ötztal.

Ötzi tem a impressionante idade de 5.300 anos! Uma amostra genética valiosa da era do bronze na Europa. Dificilmente encontraremos outro objeto de estudo que tenha sido mais medido e analisado do que este.

Concluíram os cientistas que Ötzi foi vítima de um ataque. Uma flecha acertou-lhe o ombro, rompendo uma veia importante. Sangou até morrer. Na verdade, estudos posteriores, com especialistas forences, mostraram que ele desmaiou, vítima do sangramento e bateu a cabeça em alguma pedra, ou mesmo, seu agressor bateu-lhe com o arco. A flecha, foi quebrada, na parte exterior pelo matador, mas a seta ficou interna ao corpo.

O assassino ainda moveu a vítima de posição. Colocando-a na posição que foi encontrada.

Tudo indica que Ötzi era um caçador e a análise genética determinou que a múmia não possui descendentes vivos. O teste do DNA das mitocôndrias é excelente para este tipo de análise, pois é passado de mãe para filhos.

Posição em que foi encontrada a múmia. Site em alemão:

http://www.rolf-tiemann.de/oetzi/oetzi.htm

Excelente estado de conservação

foto da Franco Rollo/Universidade de Camerino

http://www.crystalinks.com/otzi_ice2.jpg

Caso queiram um bom documento sobre esta múmia, leiam o arquivo, em pdf, locado em : http://www.meditec.zeiss.com/C125716F004E0776/0/6D132B76978FA9D2C12571750065987E/$File/Innovation_11_8.pdf, em inglês.

Portugal, por aí

Camões escreveu um poema épico que é a identidade lendária do povo português:

Os Lusíadas. Publicado em 1572 é um registro lírico-testamento das aventuras de conquista do povo lusitano. Digo lírico por sua métrica e passagens de extrema inteligência e beleza, digo testamento, porque Portugal, já decadente, caía nas mãos de Filipe Segundo, rei rapsburgo poderosíssimo de Espanha. O poeta morre no ano da anexação, 1580.

Embora algumas passagens são por demais exageradas e ufanas, como os versos abaixo, colocando as conquistas antigas, bem mais significativas que as portuguesas, na cloaca da história, a qualidade lírica é excelente:

CANTO I : Proposição

Cessem do sábio Grego e do Troiano

As navegações grandes que fizeram

Cale-se de Alexandro e de Trajano

A fama das vitórias que tiveram

Eu canto o peito ilustre Lusitano

A quem Netuno e Marte obedeceram

Cesse tudo o que a Musa antiga canta

Que outro valor mais alto se alevanta

Ora, logo se vê a incongruência entre a lírica e a realidade.

Portugal nunca foi um país de grandes confrontos, quer para se defender, quer para conquistar.

Leiam as próximas estrofes do Canto I e logo explico o porquê desta afirmação :

As armas e os barões assinalados

Que da ocidental praia lusitana

Por mares nunca d'antes navegados

Passaram ainda além da Taprobana

Em perigos e guerras esforçados

Vamos lá: Taprobana é o antigo Ceilão, hoje Sri Lanka. Portugal encontrou a região envolta em guerras tribais com o território dividido em várias castas e reinos rudimentares. Não conseguiu conquistá-los. Manteve-se litorâneo e somente com muito esforço, perfídia e traições conseguiu parte deste domínio. Teve de entrar em acordo com o reino de Kandy. A cidade de Colombo foi fundada e os Taprobanos odiavam os Portugueses, nem tanto pela conquista de seus territórios ou cessão de parte de sua parca riqueza, mas por outro motivo.

Leiam os versos a seguir e tentem imaginar o porquê :

E também as memórias gloriosas

Daqueles reis que foram dilatando

A Fé, o império e as terras viciosas

De África e de Ásia andaram devastando

Isto mesmo, os Taprobanos,de religião Budista,tiveram de engolir o cristianismo.

Os portugueses não conseguiram implantar com sucesso uma colonização. Posteriormente, com a anexação de Portugal ao reino espanhol, Portugal ganhou de presente os inimigos dos rapsburgos, daí os holandeses serem aceitos como aliados dos budistas naquele território asiático.

Pouco ficou da conquista portuguesa em Sri Lanka.

Muitas famílias, apesar de não saberem o que é Português, possuem sobrenome lusitano.

Mas Os Lusíadas é uma obra monumental que merece ser lida, por seu valor estético e por sua beleza e rigidez.

A cidade de Colombo, que nasceu lusitana.

http://www.iho-ohi.org/index.php/category/sri-lanka/

sri lanka dambulla

http://www.my-srilankaholidays.com/

quarta-feira

MENINA DE GUANTÂNAMO

José Martí (1853 - 1895 ) foi um herói cubano, intelectual de primeira. Homem, como Camões, de letras e armas.

Sua inquietude separatista levou-o ao confronto com as forças espanholas. Morre num deste confrontos.

José Julián Martí Pérez é o autor do belíssimo poema:

" Cultivo una Rosa Blanca " , traduzido para muitas línguas.

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CULTIVO UNA ROSA BLANCA

Cultivo una rosa blanca,

en julio como en enero,

para el amigo sincero

que me da su mano franca.

Y para el cruel que me arranca

el corazón con que vivo,

cardo ni ortiga cultivo:

cultivo una rosa blanca.

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Cultivo uma rosa branca,

em julho como em janeiro,

para o amigo verdadeiro

que me estende sua mão franca.

E para o mau que me arranca

o coração com que vivo,

cardo ou urtiga não cultivo:

cultivo uma rosa branca.

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Tradução de Anderson Braga Horta

Os versos ganharam a composição de uma belíssima e conhecida canção, daquelas que não conseguimos parar de assobiar ou cantar depois que a música acabou.

Alguns dizem que a melodia é antiga, do início da literatura catalã, de autor desconhecido. Os poetas do Reino de Leão ( Portugal ) e os da Catalunha, trocaram muitas visitas e influências.

Raíces de América tem uma das gravações mais conhecidas, porém muitos outros intérpretes de peso deram as honras para esta canção.

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Composição: Joselito Fernandez

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GUANTANAMERA

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Guantanamera, guajira guantanamera

Yo soy un hombre sincero

De donde crecen las palmas

Y antes de morirme quiero

Echar mis versos del alma

Mi verso es de un verde claro

Y de un carmin encendido

Mi verso es un ciervo herido

Que busca en el monte amparo

Cultivo la Rosa blanca

En junio como en enero

Para el amigo sincero

Que me da su mano franca

Y para el cruel que me arranca

El corazon con que vivo

Cardo ni ortiga cultivo

Cultivo la rosa blanca

Con los pobres de la tierra

Quiero yo mi suerte echar

El arroyo de la sierra

Me complace mas que el mar

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Eis uma das interpretações marcantes : A grega conhecida mundialmente Nana Mouskouri e o fantástico cantor francês Joe Dassin, juntos em Espanha, ao vivo. Observem, a pesar da qualidade inferior do vídeo, a técnica musical e a qualidade vocal de ambos.

Este outro vídeo do, youtube.com, mostra uma declaração política que se refere ao um dos maiores mitos da América Latina, comparável ao libertador e idealista Simón Bolívar.Uma de suas frases mais significativas, mesmo descontextualizada:

" O verdadeiro revolucionário é movido por grandes sentimentos de amor "

Que tal Guantanamera em japonês ? Poderia ser sânscrito, grego, russo, etc. Essa música ganhou o mundo. Aqui no Brasil, até Sérgio Reis cantou.

VERONA

Se há algo que se possa afirmar sobre Verona e que esta cidade tem uma alma eterna. O passado está por toda parte. Shakespeare teve sua mente pousando sobre a cidade para climatizar, com sofisticação e arte, a tensão trágica entre os membros dos Montéquios e Capuletos. O poder que tanto corrompe e cega foi abatido pela tragédia, trazendo a consciência e paz entre as famílias.

Petruchio, fidalgo de Verona, aparece vivaz e perseverante em " A megera domada " de Shakespeare. Nesta comédia o interessante é que a peça não termina com o casamento, tendo o casal se mudado para Verona, e o mau humor da esposa quase o deixa louco.

Ainda temos " Os Dois Cavalheiros de Verona ", uma outra comédia do mesmo autor, que a miúdo, trata da amizade e da infidelidade.

Marcante no cenário da cidade está seu rio Ádige, traçando a organização marginal da cidade.

Observem a ponte São Pedro, na foto abaixo: